Minha primeira parceria com o grande compositor Waldevir.
Waldevir - voz e violão
Edson Tobinaga - bandolins
BRUMADINHO (uma tragédia anunciada)
Waldevir & Edson Tobinaga
Brumadinho
Rio doce
Tanta morte
Quem é que trouxe
Mar de lama
Vale é grana
Este é o preço
Da sua gana
Quanta dor
Desespero
Animais
Um pesadelo
Rompimento
Tanto horror
Caos irado
Neste atropelo
Impunidade
Insanidade
Quem se importa
Família morta
A ribanceira
A corredeira
Só rejeito pelos pulmões..
Tragédia anunciada
Rio de nada
Alma penada
Cadáveres na estrada
Socorro manada
Indeniza nada
Gente estropiada
Caras de pau
Vidas que se vão
Soluços na dor
Será que os que ficaram
Serão recompensados?
"plena pantomima"
atarantado ritmo de que tudo se espera, menos compasso de espera
a me atravessar as vísceras entupidas de quimeras
navalhando o que, alheio à alma, nascera disciplinado
ritmo atarantado
a engolfar, num turbilhão, as rimas em branco
as brancas rosas
os grisalhos
outonos
e o sono
quase em abandono
(prenúncio de clarão da lua)
atarantado ritmo e ocasos, por acaso, nada ocasionais: o ritmo
e, por dentro, o tráfego tipicamente brasileiro de saudades
- a impressão de ter visto a sombra do pierrô
em plena pantomima
no vão livre dos mapas
ritmo atarantado
em trilhas porque qualquer quixote caberia em seu delírio
as trilhas
(sim!)
as trilhas
ladrilhos de Tomie
o metrô está mais bonito assim
eu escreveria um poema fumegante pelos túneis
e adormeceria em toneis de neblina paulistana
no entanto, detenho minhas mãos para mandolina
em rosas que nada soam:
apenas tremeluzem em sua palidez dulcíssima numa lágrima
lágrima:
pétala de lua
Edson Tobinaga
Poema de setembro de 2000, revisto em maio de 2020
Tania Clemente, declamação
Edson Tobinaga, violão
"Recado ao Tom" (Edson Tobinaga), música composta em dezembro de 1994, in memoriam Antonio Carlos Jobim.
ZONA DE FRONTEIRA
Daniel Collaneri, trompete
Edson Tobinaga, violão e arranjo
Sérgio Celestino, contrabaixo
Jonathan Mauger, bateria
Filmagem realizada em 15 de julho de 2017 por Julien Lafont.
Formado por quatro amigos – Edson Tobinaga (violão, arranjos e direção musical), Daniel Collaneri (trompete), Sérgio Celestino (contrabaixo) e Jonathan Mauger (bateria) –, residentes do Parque São Domingos, região noroeste da capital paulista, o quarteto instrumental Zona de Fronteira trafega em um território vívido e fecundo, nos limites entre o erudito e o popular.
A estreia se deu no conceituado Sarau dos Conversadores, em sua 33ª edição, no palco do Auditório da Livraria da Vila, em 29 de novembro de 2016. Na ocasião, foram executadas três composições de Edson Tobinaga – “Trilha”, “Inteira e Reluzente” e “Recado ao Tom” –, uma de Paulo Jobim e Ronaldo Bastos – “A Mantiqueira Range” (temperada com o “Prelúdio nº 4” de Villa-Lobos) – e a fusão de dois clássicos de nosso cancioneiro: “Trem Azul”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos, e “Chovendo na Roseira”, de Tom Jobim, pequena parcela de um repertório que privilegia a música brasileira e toda sua riqueza de sabores, ritmos e matizes.
O “Zona de Fronteira” lança-se, portanto, num projeto desafiador de desvendar os vários brasis que pulsam dentro do Brasil, ainda pouco explorados, valorizados e devidamente reconhecidos, que, desinibidos, dialogam com a tradição e a modernidade de outras culturas, mas com um sotaque inimitável e irresistível, tipicamente brasileiro.
A peça "Abstração Construída", elaborada através de meios eletrônicos, é consequência de reflexões e estudos acerca de um mesmo som, seus satélites e seus silêncios, de um desenho rítmico e seus desdobramentos, abstração que, não obstante, apoia-se na forma-sonata, ainda que estilizada. Apesar de suas modestas proporções, esta "Abstração Construída" resulta de uma admiração incondicional pelas obras de Giacinto Scelsi e Toru Takemitsu.
Não obstante ser um experimento eletrônico, a peça é impregnada de reflexões sobre a existência e sobre a condição solitária em que o homem, mesmo vivendo em sociedade, se encontra: solidão; solidões...
"Quando a gente ouve a Abstração Construída, a solidão - esse tigre - ganha uns ares de gato... E a gente chega a acariciá-la." (Yara Camillo)