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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Maria Lucia Diniz - sarau na Vila Mariana

Muito ainda se discute sobre a inclusão da música na grade escolar, mas há poucas ações para uma implementação de qualidade. Por outro lado, nota-se um grande interesse em imprimir uma educação musical consistente em localidades carentes, diferente do que acontece em grande parte do país em que, no lugar de tocar um instrumento, ensina-se a bater lata. A Sinfônica de Heliópolis (SP) e a Orquestra Criança Cidadã (PE) são exemplos de louváveis iniciativas, respectivamente dos maestros Silvio Bacarelli e Cussy de Almeida, formadoras que são de jovens cidadãos, alguns dos quais já atuantes como profissionais no Brasil e no Exterior. Louve-se também o status de excelência alcançado pelo Conservatório de Tatuí, com a inclusão de cursos de alto nível, entre os quais o inédito e pioneiro Curso de Produção Fonográfica, desenvolvido em parceria com a Fatec.
No entanto é preciso um olhar mais carinhoso sobre o trabalho realizado em escolas e conservatórios de música, sem o qual o ensino de música no país se encontraria em um estado ainda mais lastimável. Destaco, aqui, o trabalho da grande educadora Maria Lucia Diniz, que hoje exerce suas atividades presidindo o Projeto Música e Vida, em Boa Esperança (MG), e no Conservatório da Vila Mariana (SP), mas que há décadas tem formado artistas, professores e cidadãos gabaritados.
Uma característica que lhe é peculiar é a sensibilidade para observar o potencial de cada aluno que por ela passa. Daí os grandes desafios que propõe a cada aluno, cujo talento é moldado paciente e cuidadosamente; também o intelecto e a sensibilidade são estimulados, instigados, provocados, ou seja, nenhum aluno fica passivo ou mero espectador diante da música. Para mim, seu trabalho didático, que combina responsabilidade pedagógica e ousadia, tem a mesma importância que o material elaborado por Almeida Prado e a obra de José Eduardo Gramani. Como estes, também Maria Lucia é profunda conhecedora de música erudita e  popular.
Ninguém e nenhum talento são por ela desprezados, sejam alunos ou professores. Por isso, devo-lhe minha eterna gratidão por me acolher, isso há vinte e cinco anos, como professor de violão e bandolim na inesquecível PRO MUSICA – Escola de Arte, uma verdadeira usina de música, educação, arte e cultura em São Paulo. Ali, sem dúvida, aprendi a dar aula.
Na última quarta-feira, 12 de maio, tive o privilégio de participar de um sarau que ela organizou e realizou no Conservatório da Vila Mariana. Aliás, tive a honra de abri-lo, tocando Villa-Lobos e uma pequena peça que escrevi em 1987.
O que veio a seguir foi extremamente agradável! Em tudo, sentia-se a mão da pedagoga: a interpretação, a preocupação com dados históricos, a escolha do repertório, o prazer de fazer música com os meios que estivessem à disposição!
Participaram: Bianca Maretti e Thales Paiva, piano; Diego Lima, composição; Ricardo Martins, voz; Rodrigo Barbosa e Elio Ravagnani Filho, violões; Roberto Rossi, flauta; Aline Evangelista e Deocacir Menezes, violinos.
Todos transmitiram uma vibração muito boa, uma chama vívida, alentadora, que deverá redundar na expansão de práticas musicais salutares sem distinção entre iniciantes, iniciados e experientes. A resposta para qual será o papel que exercerão no meio musical só o tempo dirá, mas é certo que podem se considerar agraciados por terem a orientadora que têm. Arrisco-me, porém, a dizer que juntos formariam um interessantíssimo conjunto de câmara!
Por esse panorama que se afigura pelos lados da Vila Mariana, Maria Lucia Diniz, alunos, corpo docente e direção do conservatório são dignos dos mais calorosos aplausos!
Bravo!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um domingo na Aldeia de Carapicuíba (Festa de Santa Cruz)

Domingo, 2 de maio de 2010, Aldeia de Carapicuíba. Festa de Santa Cruz.
À tarde acompanhei, ao violão, o valoroso grupo Ô de Casa da Vila Sabrina, Zona Norte de São Paulo, em seu Sarau Caipira, um dentre vários programas culturais idealizados por seus principais responsáveis, Marcos Silva e Eli Clemente. Foi uma tarde especial, inesquecível! Naquele cenário histórico desfilou a genuína arte popular brasileira em forma de poesia e música, uma cultura que o povo necessita conhecer e que haverá de reconhecer. Talento para ouvir não lhe falta.
Um exemplo disso foi a atenção com que o público assistiu à minha execução do Prelúdio nº 5 de Heitor Villa-Lobos. Nos meus vinte e cinco anos de carreira violonística não havia presenciado ambiente mais perfeito para esta jóia escrita em 1940. Primeiro porque é uma das várias obras em que o compositor faz referência ao universo caipira, ao lado do famoso Trenzinho do Caipira, da Lenda do Caboclo, de algumas das Serestas, etc. Segundo, o cenário e a história do aldeamento de Carapicuíba. Lembremo-nos de que Villa-Lobos se auto-intitulava índio de casaca.
Devo destacar dois pontos culminantes do sarau: a declamadora Zoraide em "As Três Lágrimas" (Campos Negreiros) e as meninas Joyce e Daiane em "A Madrasta" (Domínio Público), respectivamente a tradição da arte de declamar e a esperança da continuação dessa arte por futuras gerações.
Após o sarau, em outro momento da festa, o grupo apresentou a encantadora dança do "Trança Fitas".
Quanto ao outro Brasil, ou melhor, o Brazil, levará um baita susto quando se der conta da riqueza de nossa cultura mais genuína.
Aos músicos eruditos: "Saí da toca: há uma audiência bonita, há muito tempo ansiosa por conhecê-los e abraçá-los!"