"plena pantomima"
atarantado ritmo de que tudo se espera, menos compasso de espera
a me atravessar as vísceras entupidas de quimeras
navalhando o que, alheio à alma, nascera disciplinado
ritmo atarantado
a engolfar, num turbilhão, as rimas em branco
as brancas rosas
os grisalhos
outonos
e o sono
quase em abandono
(prenúncio de clarão da lua)
atarantado ritmo e ocasos, por acaso, nada ocasionais: o ritmo
e, por dentro, o tráfego tipicamente brasileiro de saudades
- a impressão de ter visto a sombra do pierrô
em plena pantomima
no vão livre dos mapas
ritmo atarantado
em trilhas porque qualquer quixote caberia em seu delírio
as trilhas
(sim!)
as trilhas
ladrilhos de Tomie
o metrô está mais bonito assim
eu escreveria um poema fumegante pelos túneis
e adormeceria em toneis de neblina paulistana
no entanto, detenho minhas mãos para mandolina
em rosas que nada soam:
apenas tremeluzem em sua palidez dulcíssima numa lágrima
lágrima:
pétala de lua
Edson Tobinaga
Poema de setembro de 2000, revisto em maio de 2020
Tania Clemente, declamação
Edson Tobinaga, violão